EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Resumo do texto “FAMÍLIA E ESCOLA: como essa parceria pode favorecer crianças com necessidades educativas especiais” de Cláudia Paranhos de Jean Portela & Célia Verônica Paranhos de Jesus Almeida.
Trabalho apresentado na pós-graduação em Gestão Escolar da Faculdade Kurius em 2016
Por: Aroldo Filho (Historiador, Pós-Graduado em Gestão Escolar, criador do Arquivo Público de Pacoti, da Associação SEMPRE e do Jornal Delfos-CE)
(Prof. avaliador: Dr. Dalton Walbruni)
A escola e a família ocupam um lugar imprescindível na formação da personalidade da criança, embora possuam características diferentes, mas são indissociáveis.
A teoria sócio-histórico-cultural de Vygotsky serve de parâmetro para estudo de como a proximidade da escola com a família pode influenciar no processo de aprendizagem da criança com necessidades especiais.
A família é uma instituição socializadora, com relações afetivas e características próprias dentro de uma cultura com uma posição socioeconômica definida e tendo uma herança cultural que geram premissas para o desenvolvimento da personalidade do indivíduo e servindo inclusive de mediadora o indivíduo e a sociedade na qual se encontra.
Segundo Vygotsky, o indivíduo precisa de maturação orgânica e interações sociais para se entender como ser. O patrimônio cultural é, para a teoria sócio-histórico-cultural, um conjunto de valores e conhecimentos da humanidade que para ser alcançado precisa de uma mediação, principalmente por parte dos mais experientes, gerando conhecimento compartilhado que por sua vez gerará o conhecimento pessoal, a posteriori, quando o sujeito passa a se apropriar da cultura.
O aprendizado acontece como internalização, do interpsicológico (interação social) para o intrapsicológico ( dentro da cabeça do indivíduo, interagindo consigo mesmo) em processo de análise em que o sujeito passa a criar significados para as suas próprias ações a partir de instrumentos sociais a que ele tem acesso a serem compreendidos por meio de códigos compartilhados.
Vygotysky diferencia o desenvolvimento real do proximal ou potencial, o primeiro consiste em um conhecimento que ou habilidade que o sujeito já alcançou e o segundo o que ele poderá alcançar se tiver ajuda de alguém mais habilidoso ou mais sábio.
“[ As funções psicológicas que fazem parte do nível de desenvolvimento real da criança em determinado momento de sua vida são aquelas já bem estabelecidas naquele momento. São resultados de processos de desenvolvimentos já completados, já consolidados” ( Oliveira, 1998 , p. 59).
Quando a criança já consegue realizar uma tarefa nova com a orientação de uma pessoa mais experiente, chamamos o desenvolvimento proximal de zona de desenvolvimento proximal (ZDP).
“la distancia entre el nivel de desarrollo actual, según determinado por la solución independente de problemas y el nivel de desarrollo potencial, según determinado por médio de la solución de problemas bajo la orientación de um adulto o em colaboración com pares más.” (Vygotsky, 1978 apud Rodriguez, 1997, p. 56).
Vygotsky está sempre voltada para o que virá futuramente em vez de focar apenas no presente, uma vez que a zona de desenvolvimento proximal definem as funções que estão em maturação.
A personalidade da criança será formada por um conjunto de influências, principalmente dos adultos onde a criança se apropria do patrimônio cultural acumulado da sociedade através de um processo de socialização e educação.
Vygotsky é otimista em relação às deficiências, e nos diz que tanto as crianças ditas “normais” quando as deficientes são envolvidas socioculturalmente da mesma maneira perante a formação da personalidade.
“La peculialidad positiva del niño com deficiências también se origina, en primer lugar, no porque en él desaparece unas o otras funciones observadas en um niño normal, sino porque esta desaparición de las funciones hace que surjan nuevas formaciones que representan, en um unidad, uma reacción de la personalidade ante la deficiência,la compensación em el processo de desarrollo.” (Vygotsky, 1989, p. 7).
Vygotsky considera a deficiência ao mesmo tempo como um fator de influência contraditória, visto que no sentido físico é uma limitação que prejudica a atividade orgânica, mas que serve de estímulo para desenvolver outras funções como para compensar o defeito que se têm.
“[...] si un niño ciego o sordo en el desarrollo lo mismo queun niño normal, entonces los niños con deficiencia lo alcanzan de un modo diferente, por outra via, con otros médios y para el pedagogo es muy importante conocer la peculiaridade de la via por cual él debe conducir al niño.” (idem)
Essa compensação seria uma busca pelo equilíbrio das funções psíquicas. Para Vygotsky, o educador além de enfrentar o problema das deficiências incluindo as suas consequências sociais.
A família transmite ao indivíduo a herança cultural da própria família e da sociedade, sendo portanto um grupo primário onde o sujeito aprende papéis sociais para a construção de uma identidade social e pessoal e só depois com uma socialização secundária é que o sujeito fará ajustes à sua adaptação, sendo assim, a família tem, para Vygotsky, um lugar privilegiado; portanto, não se pode compreender as crianças com necessidades educativas especiais em sua totalidade sem o contexto familiar na qual está inserida, especialmente as crianças socioafetivamente mais retraídas.
Segundo dados do Saeb (1999), as crianças cujo os pais participam ativamente na sua educação o rendimento escolar obtém progressos maiores e quando os pais trocam informações com professores e diretores essas crianças aprendem mais e melhor.
A escola “[...] pela função que a sociedade lhe concede, pelos recursos que possui, pela preparação científica de seu pessoal, entre outros, está em condições de exercer uma influência muito poderosa, porém necessita de uma relação estreita com a família para que seja mais efetiva.” (Perrea, 1997, p. 10).
Família e escola, portanto, devem trabalhar de mãos dadas, principalmente no caso de crianças com necessidades educativas especiais. A ação educativa sistematizada não deve negligenciar as necessidades sociais, econômicas e culturais e problemas concretos do educando, mas deve focar no princípio de que o estudante é um sujeito com realidade material e simbólica.
Para Santos (1999, p. 40), a família é “o primeiro berço educacional do ser humano”. A família tem obrigações sociais preestabelecidas e pode e deve se perceber como agente ativo do processo educacional do estudante, como elemento educacional estratégico que não substitui a escola, mas a complementa.
“Os Ministérios da Educação e as escolas não devem ser os únicos a perseguir o objetivo de dispensar o ensino a crianças com necessidades educacionais especiais. Isso exige também a cooperação das famílias e a mobilização da comunidade [...]” (Declaração de Salamanca, 1994, artigo 58)
“As autoridades responsáveis pela educação aos níveis nacional, estadual e municipal têm a obrigação prioritária de proporcionar educação básica para todos. Não se pode, todavia, esperar que elas supram a totalidade dos requisitos humanos, financeiros e organizacionais necessários a esta tarefa. Novas e crescente articulações e alianças serão necessárias em todos os níveis [...]. É particularmente importante reconhecer o papel vital dos educadores e das famílias [...] Quando nos referimos a um enfoque abrangente e a um compromisso renovado, incluímos as alianças como parte fundamental.” (idem)
É preciso firmar compromisso com reciprocidade entre escola e a família e seus papéis devem ser aproximados e mais igualados em responsabilidade, principalmente no que tange à zona de desenvolvimento proximal.
“Deverão ser estreitadas as relações de cooperação e de apoio entre administradores das escolas, professores e pais, fazendo com que estes últimos participem na tomada de decisões em atividades educativas no lar e na escola [...] e na supervisão e no apoio da aprendizagem dos filhos.” (idem, artigo 61)
Para Santos (1999, p. 43), “as famílias precisam se aproximar da escola não apenas comparecendo a reuniões de pais ou participando de conselhos escola-comunidade através de representantes, mas é preciso que ela se inteire mais diretamente no processo educacional acadêmico dos seus filhos, ajudando-os a aprender [...]”
A escola precisa abrir as portas às famílias, mas sem assumir uma relação de hierarquia onde ele fosse um juiz cobrador e sim ajudando estas a se informar para crescer numa relação mais harmônica com a escola.
O MEC (Ministério da Educação e Cultura) lançou uma campanha de mobilização nacional a fim de mobilizar e conscientizar a sociedade para o valor da interação entre pais e escola.
Uma pesquisa do IBGE em dezembro de 2000, com duas mil pessoas em todo o país revelou que os pais são conscientes da necessidade de interação com a escola.
É preciso acordar para essa realidade para que a educação realmente melhore no país. Mas, a realidade é que a escola se põe sim em um pedestal de superioridade e de cobrança em vez de buscar uma parceria harmônica, em parte porque também já é cobrada pelo sistema para gerar resultados e para ela é empurrado todo tipo de projeto, pelas Secretarias de Educação Municipais e pelos CREDEs, goela à baixo.
Acima de tudo a escola em si também precisa de um maior amparo e o professor precisa de uma formação continuada além de assessoria de um profissional gabaritado nas deficiências, o que geralmente não se vê.
Além do profissional da educação planejas as aulas ainda tem que imaginar maneiras novas de ensinar a estudantes com necessidades especiais que muitas vezes lhes são passadas informações quebradas; muitas vezes falam apenas “aluno tal tem laudo” sem explicar que laudo é esse.
Um problema maior ainda é o preconceito por parte dos próprios gestores das escolas que dizem que a lei impede de dar nota inferior à média e com isso proíbem professores de dar notas também acima da média, o que se vê claramente numa atitude completamente ilegal porque o estudante com deficiência não está inapto a evoluir e se evolui é justo que sua nota também suba, assim como subiria para uma criança dita “normal”.
Essa realidade, por exemplo, acontece na Escola Linha da Serra, de Guaramiranga-CE.
É preciso lembrar sempre dessa zona de desenvolvimento proximal, sabendo que você pode criar novos modos de fazer a criança aprender, mesmo a deficiente. Acontece muito também de os professores em vez de criar novos modos de ensinar simplesmente deixar os deficientes à parte sem nenhuma atividade ou uma atividade muitíssimo simples que nada tenha a ver com a disciplina abordada em sala de aula, sendo que muitas vezes a criança com deficiência é capaz de mais do que demonstra, mas como é acomodada pela maioria dos professores a não fazer nada passa a se acomodar e mesmo a se recusar a fazer qualquer atividade.
O professor que quer fazer a diferença, portanto, vai ter trabalho e deve ser humilde o suficiente para pedir ajuda dos demais educandos, sendo que está ajudando a estes também a compreenderem que estando em sociedade também de certa forma é dever de cada um ajudar uns aos outros, e isso deve ajudar inclusive na melhor socialização dentro da própria sala, o que se repetirá com certeza fora dela, com maior ou menor ênfase.
O problema não está em ter ou não o educando uma deficiência, ou vários com vários transtornos diferentes, mas à escola procurar entender, aos gestores em não ter preconceito, principalmente em se tratando de diretores e por ser espaço educacional, onde deveriam dar o exemplo, ser claros com os professores, mostrando inclusive cópia dos laudos para que o educador possa pesquisar a respeito e ao próprio educador cabe não se deixar acomodar e inventar.
Acima de tudo, inventar é preciso, sem inventar novos métodos, não necessariamente ficando refém da tecnologia, como a maioria segue a favor da corrente, mas até mesmo na linguagem, modo de abordar os temas, tentar despertar, encantar, aproximar-se, seguindo a linha de raciocínio de Vygotsky e alguns que com certeza se espelharam nele como Luckesi e Paulo Freire.